São Gonçalo

O louvor a São Gonçalo é muito difundido em Portugal e, aqui no Brasil, principalmente na zona rural dos estados de São Paulo, Minas Gerais, Paraná, Mato Grosso, Piauí, Bahia, Ceará, Maranhão e Sergipe, o fervor ao Santo é mais forte. É uma dança ritual de origem muito remota, tanto, que existe registro do folguedo, na Bahia, em 1718. Como dança promesseira, era destinada, no início, apenas a pagamentos de obrigações feitas a São Gonçalo, santo de grande influência entre os portugueses, frade franciscano que viveu na cidade de Amarante, pelos idos do século XIII. Além da fé, envolvem a história do Santo várias lendas. Consta que antes de entrar para a Ordem, foi marinheiro e, por esta razão, o chefe do grupo, chamado de Patrão, se veste como um marinheiro, embora no roteiro do folguedo não exista nenhum episódio marítimo. Em Laranjeiras, a sua imagem é carregada pela única mulher do grupo, a Mariposa, dentro de um barquinho durante as apresentações do grupo. Os brincantes, só homens, usam sobre a calça, saias coloridas e longas, blusas rendadas e xale enfeitado com fitas de várias cores. Na cabeça, um lenço branco adornado com fita vermelha. Pulseiras, colares e brincos completam o traje, trazendo uma simbologia feminina ao grupo, relembrando as mulheres salvas pelo Santo do pecado. Embora dedicado na fé a um Santo português, o folguedo apresenta no louvor a forte presença africana, observada na música, na dança e em palavras do dialeto africano inseridas nas letras. Os cantos são apresentados de acordo com as jornadas, que se dividem em: Abertura, Intermediária e de Fechamento. Mas existem jornadas especiais quando, pagando promessas, cantam durante a refeição oferecida pelos promesseiros ou nas procissões.

Em todas, o início e o fim são feitos com o benzimento

Nas horas de Deus amém, Padre, Filho, Espírito Santo

Essa a premera cantiga

Que prá São Gonçalo eu canto

Instrumentos de corda e percussão acompanham os cantos: são dois violões, dois cavaquinhos, uma caixa e dois pulés. Como na maioria dos nossos folguedos, o São Gonçalo se apresenta em duas fileiras, tendo à frente o Patrão com seu tarol. A coreografia é simples, em movimentos circulares, laterais, volteios pelo meio das filas, giros em torno de si mesmo, movimento de ponta de pé e de calcanhar, movimento de braços ao alto e troca de lado entre as fileiras, exigindo dos brincantes grande destreza na cadência do ritmo. Meia lua, dar o pé, voltar e trançado são os passos presentes em todas as jornadas. Esteticamente, a dança é de beleza invulgar, é negra no ritmo, canto e movimento e portuguesa na fé ao Santo de Amarante. Existem grupos do folguedo nos municípios de Itaporanga D’Ajuda, Laranjeiras, Pião, Poço Verde, Riachão do Dantas, São Cristóvão e Simão Dias.

 

Em Portugal, enquanto dançam, os devotos de São Gonçalo, evitavam o riso, em respeito ao caráter religioso do rito e em fervor ao Santo. O São Gonçalo da Mussuca é secular envolvendo brincantes de muitas gerações. Caracterizada pela influência das danças de origem africanas, é intercalada por rimas de louvor ao Santo do Amarante.